Mas não era um menino?

Aquele famoso "atraso" e enjôos constantes. Claro que é gravidez...é bom começar esse pré-natal, controlar a alimentação e começar a preparar as coisas pra chegada desse bebê. Idas e mais idas ao médico, ultrassonografias, a famosa pergunta, questão central do interesse de parentes, amigos ou da pessoa que tá sentada ao lado no ônibus: "É menino ou menina?" Não havia como responder, o querido bebê queria manter o mistério, para a ansiedade de todos.

Tias e avós precisavam saber para escolher a cor da linha do bordado das roupas, da costura das cortinas, das meias, sapatinhos e luvas. Azul, vermelho, amarelo, verde, branco... tudo sendo preparado para a chegada do menininho, de Júnior. Mas peraí, não disse que não tinha dado pra ver o sexo? Tanto faz, é Júnior; o sonho da mamãe, o jogador de futebol que chutava a mão de papai. Nada de rosa no enxoval, vestidos, tiaras, lacinhos - um acordo tácito entre as bordadeiras e costureiras da família e as pessoas que presenteavam. Era o maior chamego, as tias de Recife cobravam visita para conhecerem "a barriga", pagaram passagem, mandavam presentes...

Até o dia que minha mãe resolveu ir sozinha fazer a ultrassonografia, aos sete meses. Tudo estava bem, até ouvir da médica:
- Olha, mãe, sua menininha está muito bem!
- Menina? Mas é um menino, doutora!
- Menino? Não é não, dá uma olhada aqui...

A essa altura as lágrimas já escorriam pelo rosto, de forma a desconcertar a médica, que consolava: olha o batimento do coração, olha a perninha dela, o bracinho, ela vai ser linda, ela vai ser saudável...
Em prantos minha mãe vai até o trabalho de meu pai dar a notícia, e assusta ao chegar. "Ele tá bem??"
"Não é ele... é ela" - e mais choro.
Meu pai tentou consolar também: "Mas a doutora pode ter se enganado, calma..."
Meu tio riu e fez piada: "Toma aí, ó, seu menino... Júnior pra cá, Júnior pra lá..."

Hora de mudar o enxoval!
O menino que só se aquietava com a mão do pai sobre a barriga na hora de dormir, que provocou enjôos até os quatro meses e desejo de beber uma cerveja empedrada de tão gelada às 3 da manhã, que adicionou vinte quilos ao corpo magro... era uma menina.

O trabalho de parto foi dentro do esperado - entrada às 11 da manhã e nascimento às 22:45, feito pela médica que estava lá mesmo com o pé engessado. Ansiedade em ter por perto, toda hora a pergunta "Cadê ela, doutora, cadê ela?"
- Calma, mãe... aqui não é como a Globo, que troca os bebês! Ela tá bem, daqui a pouco vem pra você.
Na primeira oportunidade de contato, encontrou três detalhes pra me marcar: uma mancha na mão, uma no pé, e o formato do dedo igual ao do pai.
E a criança não parava de chorar... "Oh, por que ela chora tanto, assim?"
- É assim mesmo, tá tudo bem... deixa ela abrir os pulmões e contar pra o mundo que chegou!

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Sabe o que aconteceu quando minha mãe me disse que chorou porque queria um menino? EU RI. Dei um a zero na família toda!
Além do mais, a menina fez/faz ela feliz de um jeito que esses desejos já nem importavam mais...


Oito meses, já não era mais Júnior.

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