Te peguei, Papai Noel!


Meus pais sempre me estimularam a escrever cartinhas para Papai Noel. Nada de colocar meia na janela, fazer pedidos secretos, o negócio era deixar claro o que eu queria de presente em todo Natal. Me diziam para colocar na árvore, embaixo da cama, eu sabia que poderia colocar a carta onde quer que fosse, porque em qualquer lugar Papai Noel encontraria e deixaria meu presente debaixo da árvore na véspera do Natal. Toda criança sonha em surpreender Papai Noel deixando o presente, e eu sabia que além dessa, tinha outra chance de finalmente conhecê-lo pessoalmente: quando ele viesse buscar minha cartinha.

No ano de 1997, por volta do mês de novembro, quando já se começa a falar sobre o Natal, eu estava com meu pai na casa da minha tia, quando ela me perguntou qual presente eu ia pedir. Antes que eu respondesse, meu pai disse sem pudor algum – É... Papai Noel esse ano está sem dinheiro... – e riu. Bem, ele deveria ter se lembrado que eu já tinha sete anos. E poxa, Papai Noel não precisa de dinheiro, né? Comecei a desconfiar mais ainda daquela história toda, afinal toda criança escuta de alguém que Papai Noel não existe.

Naquele Natal eu resolvi fazer diferente, eu precisava descobrir. Escrevi a cartinha com a caligrafia mais caprichada que eu pude, pedi meu querido presente, fechei bem o envelope. Coloquei no fundo da minha caixa de meias, debaixo de várias delas, com algumas roupas por cima. Papai Noel não encontrava em qualquer lugar? Então veremos se Papai Noel vai acertar no presente esse ano.

Deixei passar alguns dias, e fui checar a carta. Ela estava lá. Não deu tempo ele aparecer, né?
Mais uns dias. Ela ainda estava lá. Passei a olhar todos os dias, e ela sempre estava no mesmo lugar, exatamente como eu deixava. Eu sempre deixava alguma marca, alguma meia em especial por cima, pra saber se ele teria mexido ou não. E sempre tudo igual. Mas poxa, talvez ele pegue por mágica, sem desarrumar tudo. Talvez ele pegue na véspera do Natal mesmo, e traga o presente bem rápido. Mas na manhã de Natal ela ainda estava lá, intacta.
É, Papai Noel, te peguei! Você sempre foi uma farsa!
E meu presente... eu gostei, mas... é, não foi bem o que eu tinha pedido.

Algum tempo depois, eu tive a maior certeza que eu poderia ter. Olhando a gaveta do criado-mudo que tinha no quarto dos meus pais, estavam lá minhas cartinhas, de vários anos seguidos, todas abertas, lidas pelos meus “Papais Noéis”.
Não senti raiva. Pelo contrário, me admirei pela criatividade deles, e por todo o cuidado que tiveram por tantos anos em proteger aquele segredo, fazendo o que podiam para retribuírem minhas expectativas. Tudo para manter a mágica de todo Natal.
Conseguiram se tornar mais heróis que o Papai Noel.


- Mãe, você ainda tem alguma carta daquelas que vocês me mandavam escrever no Natal pra eu colocar no meu portfólio?
- Que cartas? Tem da escola, eu acho.
- Não, só servem aquelas.
- Vou olhar em minhas coisas, depois. Ah, não tem... seu pai mandou todas pra Papai Noel! [risos]  

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