sábado, 20 de novembro de 2010

Mudança(s)

Aspectos Físicos, Cognitivos e Psicossociais

Na terceira infância o crescimento é desacelerado em relação aos períodos anteriores. Existe uma diferença de gênero no desenvolvimento; enquanto os meninos tendem a ser mais altos no início desse período, as meninas entram na puberdade mais cedo e o surto de crescimento supera a altura dos meninos. O final da terceira infância é também um período de passagem para a pré-adolescência.

"No grupo eu sempre fui a mais tímida, a mais baixa, a mais nova, e estava entre aqueles que tinham as melhores médias." Minha diferença corporal em relação às minhas colegas foi consequencia tanto por eu ser a que tinha menos idade quanto pela minha puberdade ter começado mais tarde do que a delas.

Nesse período, há um afastamento do convívio com os pais - embora eles não deixem de ser importantes para a criança - e isso se deve tempo que é gasto na escola, que se torna um ambiente de extrema importância e influência no desenvolvimento da criança, onde ela poderá estabelecer maiores relações sociais.

"O papel passou pela tia da cantina, por colegas de várias classes, professores, secretaria, diretora, conseguimos muitas assinaturas e vários recados para minha mãe. O colégio quase todo se mobilizou pela causa."

Uma das diferenças entre a amizade da segunda infância para a da terceira infância está na influência que a primeira tem da supervisão dos adultos; sem esse elemento, as crianças ficam mais livres para as mudanças. Os amigos adquirem uma relevância muito grande, e os grupos são formados naturalmente nos contextos de convivência como bairro e escola. As amizades se tornam mais profundas e estáveis, baseadas na intimidade, e os modelos de relacionamentos desse período se estendem por toda a vida.
Elementos como a mutualidade no conhecimento, confiança e comprometimento refletem a superação do egocentrismo, já que a criança passa a enxergar em perspectiva e colocar-se no lugar do outro. Os amigos são importantes também na resolução e superação de conflitos e situações que sejam estressoras, e mesmo as inevitáveis brigas entre si são uma forma de aprender a resolver conflitos e lidar com as diferenças.

A aproximação com os amigos também abre perspectivas para julgamentos independentes, diferentes daqueles baseados nos pais, que são colocados à prova. O grupo também oferece segurança emocional, de forma que as crianças se sentem mais confortáveis ao perceber que tem sentimentos que vão de encontro a um adulto.

"Rejeitei logo que soube e apesar dos esforços de todos, eu não cedia. Não queria ter que entrar numa nova escola com panelinhas já formadas, não queria ser a diferente, largar as minhas amigas, ter outros professores. E assim que elas souberam, juntaram-se a mim. Aquela das ideias mirabolantes criou um plano que colocamos em prática de imediato: uma greve de fome. (...) Criamos um código de comunicação: um toque no telefone se estava dando certo, dois toques se não estivesse."

"A fome era enorme, mas eu não podia ceder, tinha que lembrar todas as palavras de força que escutei antes de sair do colégio e resistir até minha mãe chegar!"

O relacionamento com os pais se modifica, partindo de uma imposição disciplinar para uma co-regulação, onde ambos dividem o poder; os pais assumem um papel mais voltado ao supervisionamento das atividades exercidas pelos filhos, que precisam se auto-regular. A capacidade cognitiva de argumentação (se as regras não são universais, pode haver uma regra diferente dessa que eu não aceito) permite que haja questionamento e busca por consenso nessa relação.

"Quando ela leu, me chamou para conversar. Disse que entendia o quanto era difícil, e diante de tanta resistência, falou da possibilidade de que eu fosse para o colégio de ônibus. (...) Após uma conversa com meu pai, isso ficou acertado."
"(...) prestar atenção onde a gente desceria, ir direto para escola e avisar a minha mãe quando chegasse (só no início). Na volta, convencer minha irmã a parar de correr no pátio e ir embora (esqueci dela uma vez, mas foi só uma vez, lembrei antes de chegar ao ponto!) e ir direto para casa."
Essa questão tem importante influência nas tomadas de decisões, promoção gradual de autonomia da criança e resolução de conflitos – em relação a esse último, as crianças aprendem sobre regras e padrões de comportamento, que tipos de questões são relevantes a serem consideradas e que estratégias podem ser eficazes para a sua resolução.

"A segunda parte foi ideia de outra amiga que aos 12 anos já mostrava sua alma revolucionária: um abaixo-assinado. Devidamente estruturado, explicando detalhadamente minha situação, seriam colhidas assinaturas do máximo de pessoas possíveis e seria endereçado à minha mãe."

"A partir de então minha rotina era acordar cedo e criar estratégias para minha irmã fazer o mesmo, depois mais estratégias para que ela andasse rápido até o ponto para não perdermos o ônibus, prestar atenção onde a gente desceria..."

As habilidades em leitura melhoram em conjunto às da escrita; percebendo que há como traduzir o que está escrito em fala, aprendem que há como fazer o caminho inverso também. Já que conseguem assumir o ponto de vista do leitor, conseguem articular a escrita em consonância com seus pensamentos e de modo compreensível. A capacidade de controle e expressão emocional também são importantes nesse quesito.

"A última parte era uma carta para ela, escrita por mim. Fiz por conta própria, disse como me sentia em relação àquilo, e coloquei junto ao abaixo-assinado na cômoda dela."

A superação do egocentrismo também promove a empatia, de forma que compreendem melhora as reações emocionais das outras pessoas.

"Aquilo não era para confrontar diretamente, mas para demonstrar o máximo de sofrimento possível no silêncio."

"'Tá fazendo greve de fome é, filha?' Obviamente neguei, eu tinha que escancarar o quanto sofria sozinha."
Sabendo que minhas ações afetariam minha mãe, agi de forma que ela tivesse compaixão da minha situação.

Diferentemente do que é possível na segunda infância, as crianças conseguem compreender melhor as relações espaciais; quanto tempo é gasto de um lugar para o outro, qual o trajeto que deve ser feito, quais os pontos de referência, etc. A experiência é também bastante importante para o desenvolvimento dessa habilidade.
A relação com os irmãos é importante também na aprendizagem da resolução de conflitos.

"A partir de então minha rotina era acordar cedo e criar estratégias para minha irmã fazer o mesmo, depois mais estratégias para que ela andasse rápido até o ponto para não perdermos o ônibus (apesar das brigas, dava certo), prestar atenção onde a gente desceria..."
Minha irmã, por ser mais nova, não compreendia tão bem quanto eu sobre as relações tempo-espaço. Eu sabia calcular o tempo que levava pra chegar ao ponto e à escola, e minha irmã não; portanto eu me preocupava com isso, mas ela não. (Salve, Piaget! Odiei tanto a coitadinha, achando que era pura pirraça... rs)

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